Informe
ante uma reunião de quadros da célula diretamente subordinada ao Comitê Central
do PCCh
Outubro de 1929
Por Zhou Enlai
Traduzido
por I.G.D.
Como se destaca na circular Nº 44 do Comitê Central (1), embora não devamos exagerar no
que se refere a influência política e organizativa que a oposição exerce no
Partido, de maneira alguma devemos permanecer indiferentes diante de suas
crescentes atividades e manifestações antipartido.
A derrota da Grande Revolução e o surgimento de
uma ressaca revolucionária, constituíram a causa principal da aparição desta
oposição na China, tanto que os atrasados “companheiros de estrada”
pequeno-burgueses que estavam no Partido viriam a compor a base de seu
crescimento. Há aqueles que afirmam que a responsabilidade de sua presença na
China correspondia aos “estudantes que haviam retornado de Moscou”. Tal
argumentação é errônea, pois estes não tem cumprido mais do que um papel
catalizador. Agora, vamos destacar as principais causas objetivas de sua
aparição.
Primeiro. Nos tempos iniciais depois de sua
instauração, o governo de Nanjing se preocupava muito em introduzir na China o
ideário da oposição da Rússia a fim de dividir o Partido Comunista. A oposição
trotskista é apreciada como um “tesouro” não somente pela burguesia da Europa,
mas também pelas classes dominantes da China. Quando a oposição no seio do
Partido Comunista da Rússia era teimosa com sua própria linha, a burguesia da
Europa lhe prestou suma atenção e pretendeu utilizá-la para dividir o Partido
Comunista da Rússia e liquidar sua linha correta. Na China, Hu Han Min (2), Dai Jitao (3) e Zhou Fohai (4) trataram
de desmembrar o Partido Comunista fazendo uma propaganda a favor da oposição.
As classes dominantes da China acabavam por aproveitarem-se dela como um
instrumento no seio do Partido Comunista para aniquilar esta força dirigente da
revolução chinesa. Assim, pois, o ambiente político da China tem sido favorável
para as atividades da oposição. Esta tem sido a primeira causa objetiva de sua
aparição.
Segundo. O fracasso de uma revolução traz
inevitavelmente fortes sentimentos de derrotismo e produz, como é lógico,
muitas disputas. Isto sucedeu na Rússia após 1905, e na Alemanha a raiz da
derrota de sua revolução. E assim ocorreu também na China, uma experiência
semelhante após o fracasso da Grande Revolução (5). A partir da Reunião de 7 de agosto, o Partido Comunista da
China obteve muitos êxitos na retificação do oportunismo no organizativo, mas
não levou até o fim a luta contra este no aspecto teórico e ideológico. Foi com
a realização do VI Congresso Nacional quando se obteve certo êxito nesta luta.
Apesar disto, as tendências nocivas de todo tipo existentes no Partido e as
distintas correntes políticas oriundas da raiz do fracasso da Grande Revolução,
especialmente a oportunista, estavam na espreita para entrar em ação. Esta tem
sido a segunda causa do surgimento da oposição na China, e também a causa
fundamental da confabulação ideológica e organizativa dos oportunistas e dos
opositores no seio do Partido.
Terceiro. Até agora, ainda não se pode dizer que
a vida interna de nosso Partido está completamente saudável. Ainda que no
organizativo temos trabalhado para desenraizar o oportunismo e admitido no
Partido um bom número de operários, não se instituíram práticas saudáveis na
vida da célula. Daí as frequentes vacilações na vida do Partido. Em algumas
células, a linha correta do Partido não tem sido seriamente discutida por todos
os membros, e, por conseguinte, sua linha política não se firmou como é devido
no plano organizativo. Frequentemente aparecem células que não podem explicar
tal ou qual problema de acordo com a linha correta, o que conduz a sua
vacilação. Em Shanghai, certas células chave do setor industrial não estão
ainda consolidadas, enquanto que outras possuem uma fraca vida política. Como
resultado disso, essas células, mostrando-se ativas no caso de sucesso na luta,
acabam desmoralizadas e ainda chegam a se desfazer quando sofrem derrotas. Isto
evidencia que a linha política do Partido não foi consolidada em todo o plano
organizativo. Assim, não somente a oposição, mas também os oportunistas, podem
facilmente explorar este fenômeno para levar a cabo seus planos. Esta tem sido
a terceira causa objetiva.
Quarto. A raiz do fracasso da Grande Revolução,
entre os numerosos elementos que haviam se mostrado vacilantes no período da
cooperação com o Kuomintang, uns tem desistido de seus postos de trabalho,
outros persistem no localismo, e outros mais se recusam a corrigir seus erros,
sem que se haja superado estes fenômenos nocivos no organizativo. Estes
elementos provocam disputas sem princípios meramente por insignificantes
problemas pessoais, de modo que a oposição tem sido capaz de arrastar consigo
tais elementos descontentes com a linha do Partido e ainda se aproveitam de
tais disputas para levar adiante suas atividades antipartido. Esta tem sido a
quarta causa objetiva.
Embora não se haviam conhecido no passado
atividades da oposição, as quatro causas mencionadas tornaram inevitáveis por
algum tempo as tais atividades no país. Desde então, o retorno de alguns
estudantes do estrangeiro e a ressureição do oportunismo foram causa direta de
sua aparição.
Em relação a linha tática da oposição trotskista,
podemos advertir os quatro seguintes pontos:
Primeiro, inelutável confabulação com as classes
dominantes. Em “Vida Nova” (6), já
se publicaram artigos escritos pela oposição. Esta seguirá usando os órgãos de
propaganda das classes dominantes para ajuda-las em suas atividades
anticomunistas. Se caso fracassar na luta que levam a cabo no seio do Partido,
sem dúvida se entregará inteiramente a essas classes. Este é seu inevitável
futuro.
Segundo, propaganda e atividades ilustrativas de
sua linha antipartido em todos os problemas práticos atuais. Com motivo do
aniversário do Movimento do 30 de Maio, a oposição trotskista publicou uma
declaração em que chamou os militantes a lutar contra o Partido Comunista,
concedendo a esta luta uma maior importância do que a luta anti-imperialista.
Sem sombra de dúvidas, assim estava fazendo, objetivamente, o jogo do inimigo.
Quando celebramos a manifestação do 1º de agosto (7), a considerou como uma ação putchista, deixando passar uma
forte dose de derrotismo. Seu ponto de vista demonstra um liquidacionismo
pessimista e ultradireitista.
Terceiro, tática de se manter e atuar dentro das
células explorando a imperfeição da vida do Partido em algumas delas. Permanece
nelas para fazer vacilar as massas, e busca em especial as células que têm
sofrido derrotas na luta a fim de aproveitar-se destas para atacar a linha do
Partido. Em momentos difíceis de nossa luta, lança palavras de ordem ultra
esquerdistas como “confiscação das fábricas”, com o intuito de deixar isolada a
classe operária e induzir as massas operárias a adotar ilusões sobre um paraíso
futuro e a perder de vista a significação real da luta atual. Por outro lado,
formula táticas ultradireitistas nos problemas práticos, levando as células
operárias a um beco sem saída e à desmoralização.
Quarto, colaboração com os oportunistas chineses.
Obstinados pela sua linha, os oportunistas não conseguem se adentrar nas
massas, mas tampouco podem deixar de buscar um novo programa político que lhes
sirva para encobrir seus erros. É assim que o programa da oposição lhes cai
como uma luva, permitindo encobrir erros cometidos no passado, formular
palavras de ordem revolucionárias “esquerdistas”, mas manter na realidade uma
apreciação de direita da situação da revolução e aplicar táticas direitistas.
Por isso, o programa da oposição tem sido aproveitado pelos oportunistas. E a
oposição, por sua vez, recorre a tática de apoiar-se nos oportunistas para
levar adiante suas atividades antipartido. Desta maneira a facção oportunista e
a oposição estão unidas – são farinha do mesmo saco.
Ainda mais, a oposição trotskista mente, difama e
calunia deliberadamente, tirando vantagem de problemas e de disputas
insignificantes, enquanto deixa de lado assuntos de princípios, com a
finalidade de minar a confiança dos camaradas dos órgãos dirigentes do Partido.
Isto apenas serve de ajuda ao inimigo na difamação da liderança revolucionária.
As atividades da camarilha da oposição têm sido
descobertas em Shanghai, Hong Kong e no norte da China. Eles guardam segredo
sobre sua organização do Partido. Precisamente por isso é imperativo expor este
problema para as organizações de base e conduzir os camaradas a discutir este e
liquidar totalmente com as atividades dos oportunistas e da oposição. Como
alguns elementos da camarilha da oposição não expõem publicamente seus pontos
de vista, não conhecemos todos eles. Portanto, nós devemos submeter o problema
da oposição para as discussões das células, e utilizar esta situação para
educar os camaradas e firmar uma sólida base para a linha correta de nosso
Partido. A fim de solidificar a linha correta no organizativo, todos os
camaradas devem compreender a necessidade da luta entre a linha correta e a incorreta.
Por conseguinte, além de aplicar as devidas sanções organizativas, é
absolutamente indispensável engajar-se na luta nos campos ideológico e teórico,
que é uma arma muito importante para consolidar o Partido na atualidade.
NOTAS
(1) Circular “Sobre a
oposição dentro do Partido Comunista da China”, emitida pelo Comitê Central do
Partido Comunista da China a agosto de 1929.
(2) Hu Hanmin (1879-1936)
exerceu as funções de chefe militar supremo do governo de Guangzhou e foi
governador da província de Guangdong durante a Primeira Guerra Civil
Revolucionária. Conspícuo líder dos direitistas, foi cúmplice de Chiang
Kai-shek no golpe de Estado contrarrevolucionário de 12 de abril de 1927. Mais
tarde entrou em uma prolongada disputa com a camarilha de Chiang pelo poder e
lucro.
(3) Dai Jitao (1890-1949),
fiel seguidor de Chiang Kai-shek antes e depois do golpe de Estado
contrarrevolucionário de 12 de abril de 1927. Durante o período da Primeira
Guerra Civil Revolucionária, tergiversou o conteúdo revolucionário da doutrina
de Sun Yat-sen e propalou absurdos contra o Partido Comunista e o movimento
operário-camponês, preparando deste modo o terreno ideológico para o golpe de
Estado contrarrevolucionário de Chiang Kai-shek.
(4) Zhou Fohai (1897-1948)
assistiu em 1921 ao I Congresso Nacional do Partido Comunista da China, mas
renegou este em 1924. Depois da traição de Chiang Kai-shek a revolução, foi
chefe do Departamento de Propaganda de Comitê Executivo Central do Kuomintang.
Iniciada a Guerra de Resistência contra o Japão, passou ao lado dos invasores
japoneses, traindo a pátria. Desempenhou o cargo de vice-presidente do Yuan
Executivo no governo títere de Wang Jingwei e outras funções.
(5) Se refere a Primeira
Guerra Civil Revolucionária (1924-1927), chamada também de Expedição do Norte.
(6) Revista mensal
reacionária, redigida por Zhou Fohai, que teve sua aparição em 1928, em
Shanghai.
(7) Em julho de 1919, a Segunda Internacional, que
apoiava a guerra imperialista durante a primeira conflagração mundial, decidiu
celebrar em 1º de agosto seu congresso em Lucerna, Suíça. O Comitê Executivo da
Internacional Comunista convocou os operários de todo mundo a manifestarem-se
nesse mesmo dia contra a Segunda Internacional. Em julho de 1929, em sua X
Sessão Plenária foi fixado o 1º de agosto como data internacional contra a
guerra imperialista; quando chegou este dia, o Partido Comunista da China organizou
uma manifestação anti-imperialista em Shanghai.
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